As redes sociais têm sido utilizadas, cada vez mais, por médicos e estudantes de Medicina como vitrines para autopromoção, ultrapassando os limites da ética profissional. O que muitas vezes parece ser apenas uma postagem inofensiva — como vídeos de rotina hospitalar ou fotos em meio a atendimentos —, pode, na verdade, representar sérias violações da privacidade dos pacientes.
Exposição preocupante
Casos de exposição indevida se multiplicam. Em Goiás, uma estudante chegou a filmar e publicar um exame ginecológico de uma paciente. Em outro episódio, duas estudantes de Medicina gravaram um vídeo relatando o caso de uma paciente que teria “três transplantes de coração” e “achava que tinha sete vidas”. A repercussão negativa levou à abertura de inquérito, e elas podem responder criminalmente.
Essas ações, cada vez mais comuns, acendem um alerta para os impactos da busca por engajamento nas redes sobre princípios fundamentais da Medicina, como a confiança entre médico e paciente e o respeito à intimidade do indivíduo.
Ética em xeque
Camila Vasconcelos, advogada e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), ressalta que esse comportamento reflete uma tendência social, mas assume um peso diferente quando envolve profissionais da saúde.
“Nem mesmo exibir pacientes é permitido, a não ser em ambientes pedagógicos. A confiança é o elemento mais importante da relação médico-paciente, e isso está sendo colocado em risco”, afirma.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) atualizou, em 2023, suas diretrizes de publicidade médica, autorizando publicações como o “antes e depois” apenas para fins educativos e com consentimento prévio e documentado do paciente. Ainda assim, muitos ignoram as restrições.
Conselho acompanha e pune
O Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) já recebeu denúncias relacionadas a publicações antiéticas. O presidente da entidade, Otávio Marambaia, informa que o conselho segue um protocolo de orientação, mas também abre sindicâncias e processos ético-profissionais quando necessário.
“O médico pode e deve se comunicar nas redes sociais, mas sempre respeitando a ética e os limites da profissão”, reforça.
A exposição indevida de pacientes, além de infração ética, pode configurar crime, especialmente em casos que envolvam imagens sensíveis ou informações clínicas sem autorização.
Publicado por: Isabelly Garcia